quinta-feira, 14 de abril de 2011

Os ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS E A SEGURANÇA DAS INFORMAÇÕES

Dr. Maurício Melo
MBAF Consultores e Advogados


Na era atual, nada mais causa tanta repercussão nas pautas sociais do que os alimentos transgênicos. A todo tempo Ambientalistas, Governo e Inciativa privada apresentam informações relevantes e antagônicas sobre os organismos geneticamente modificados (OGMs), cabendo à sociedade absorver parcelas de verdades (ou de inverdades), enquanto aguardam estudos e informações concretas sobre o real.

Os alimentos transgênicos são conceituados como todos aqueles que tiveram a sua cadeia genética alterada pela ação humana, excluindo assim fatores naturais e/ou evolutivos. Nos termos da Lei de Biossegurança (Lei 11.105/05), estes organismos modificados geneticamente são definidos como “organismos cujo material genético – ADN/ARN tenha sido modificado por qualquer técnica de engenharia genética”.

Estudos históricos informam que a principal evolução dos transgênicos teve inicio com as pesquisas científicas com ervilhas, em 1860, produzidas por George Mendel. A estas somaram-se outras, que mais pareciam perfeitas obras de ficção cientifica, mas, apenas pareciam: a manipulação genética dos alimentos é algo real, factível, mundial e irreversível.

Assim, Cauan Dantas assevera que há pelo menos 8.000 anos o homem intervém, de algum modo, na produção agrícola, a ponto de não existir nenhuma cultura consumida mundialmente que encontra-se em seu estado original.

Segundos dados do Greenpeace, em 1990 não havia lavouras comerciais de soja transgênica em todo o mundo. Já em 1998, a área cultivada tinha superado os 28 milhões de hectares. Segundo dados do Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações Biotecnológicas Agrícolas (Isaaa, em inglês), no ano de 2010 o Brasil se consolidou como o segundo maior produtor mundial de alimentos transgênicos, com 25,4 milhões de hectares, ficando atrás penas do EUA. Atualmente as empresas Monsanto, Bunge, DuPont, Bayer, Cargill e Syngenta são responsáveis por 99% do mercado de sementes transgênicas.
 
Nesse contexto, os principais produtos cultivados são soja, algodão e milho. Atualmente a Embrapa possui estudos adiantados também com banana, batata e abacaxi.

Conforme dito, os OGMs despertam nos Ambientalistas e Iniciativa Privada acaloradas discursões, sobretudo em face do viés ecológico, econômico, e político da matéria. Maior produção e baixos custos dos alimentos são argumentos utilizados pelas Empresas, que se contrapõe as razões contrárias dos Ambientalistas, que alegam ausência de controle sobre o funcionamentos dos genes (e suas consequências na saúde humana) e aumento das alergias.

Mediando esta tensão, o Poder Público visa melhor regulamentar e adequar esta “ainda novidade” ao cotidiano dos consumidores em todo o mundo. No Brasil, em face da insubsistente regulamentação legal da matéria, aliado ao lobby dos órgãos de defesa do consumidor, fora criada a Lei de Biossegurança (Lei 11.105/05), porém, apesar desta, ainda não existe no país posicionamento uniforme do Poder Executivo acerca da liberação e comercialização dos produtos transgênicos, ao passo que os estudos e comércio em todo o mundo aumentam em progressão aritméticas.

Esta incerteza institucionalizada pode transferir aos consumidores uma sensação equivocada do impacto destes produtos na alimentação. No Brasil apenas é permitido o cultivo destes produtos em cerca de 120 instituições, que possuem áreas experimentais. Em contrapartida a realidade nacional, as lavouras livremente cultivadas no mundo ultrapassam um bilhão de hectares.

Mas as cautelas em nosso País não terminam por ai. O Decreto 4.680/03, confirmado pela Lei de Biossegurança, foi criado para regulamentar o direito de informação ao consumidor no que diz respeito “aos alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano e animal que contenham ou sejam produzidos a partir de organismos geneticamente modificados”, sanando assim algumas históricas omissões do legislativo.

Nesse passo, qualquer produto que tenha sido produzido ou contenha OGMs, em percentual acima de 1%, deverá ter essa informação constante no rótulo. Além disso, é necessário que conste o símbolo representado pela letra “T”, dentre de uma estrutura triangular com o fundo amarelo, tal como os produtos radioativos, conforme definido pelo Ministério da Justiça.

O Decreto citado ainda faculta que nos rótulos dos produtos produzidos pelos métodos tradicionais conste a expressão “livre de transgênicos”. Esta prática talvez não seja adequada do ponto de vista comercial, pois poderá aumentar o temor a respeito dos transgênicos, mesmo sem a comprovação dos supostos prejuízos a saúde humana.

Sobre isto, afirma Milton Krieger que a rotulagem, na forma como ela se apresenta, fora equivocamente enquadrada como questão de biossegurança, pois trata-se apenas de um direito do consumidor, ou direito a informação daqueles produtores que cultivam produtos pelos métodos tradicionais. Até que haja comprovação da suposta lesão à saúde, os OGMs não devem ser enquadrados como riscos a segurança alimentar.

A rotulagem por si só não implica em questão de biossegurança, muito embora seja uma conduta que deve ser seguida pelas Empresas que atuam neste âmbito comercial, em decorrência do amplo dever de informação.

De acordo com o Código de Defesa do Consumidor é dever do fornecedor conceder ao consumidor o conhecimento prévio de todas as informações relevantes sobre o produto ou serviço que lhe é oferecido (características, qualidade, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade, origem, riscos existentes à vida, à saúde ou à segurança), de forma clara, correta, ostensiva, precisa e em língua portuguesa.

Resta evidente que os estudos devem ser fomentados pelas Instituições Privadas, permitidos pelos Estados, e bem recepcionados pela sociedade, uma vez que a segurança alimentar do mundo não pode estar pautada em falsas premissas ou temores presumidos. Nesse contexto, o dever de informar acerca dos organismos modificados geneticamente não se restringe apenas a imposições governamentais, mas também tem a missão de propiciar a conscientização coletiva acerca da matéria, com a finalidade principal coibir a discriminação injustificada.

Dr. Maurício de Melo Santos. Advogado. Membro do Grupo de Négócios – Saúde do MBAF Consultores e Advogados S/S. Pos-graduando em Processo Civil pela Fundação – Faculdade de Direito da Bahia – UFBA.

Artigo publicado no SINDHOSBA.

A OBSESSÃO DO NOVO MINISTRO DA SAÚDE

Dr. Igor Azevedo*
MBAF Consultores e Advogados 
O médico infectologista Alexandre Padilha assumiu em 03 de janeiro de 2011 o cargo de Ministro da Saúde. Nesta nova função, o petista e ex-ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais deve encarar um novo desafio: curar o sistema público de saúde.
Em seu discurso de posse, o atual ministro afirmou que a principal queixa da população não é a qualidade, mas a demora nos atendimentos, e confessou que sua obsessão será resolver este problema: “A grande reclamação das pessoas é exatamente o não-acesso, a demora, a espera. (...) tenho como ministro da Saúde, uma obsessão (...) colocar no centro do planejamento das ações de saúde deste país um esforço: perseguir a garantia do acolhimento de qualidade em tempo adequado às necessidades de saúde daquelas pessoas. Este tem que ser um objetivo quase único deste Ministério".
Padilha tem razão. Muito embora o atendimento prestado pelo Sistema Único de Saúde - SUS ainda precise de aprimoramento, 86% dos cidadãos que utilizaram o programa declararam que o atendimento foi satisfatório, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD. O difícil é ser um dos atendidos. Para conseguir, por exemplo, um simples procedimento ortopédico na rede pública, um paciente pode esperar até cinco anos. Todos conhecem a razão: a quantidade de postos de saúde e hospitais públicos nem de longe é suficiente para atender a população.
Tal situação obriga cerca de 49 milhões de brasileiros a fugirem da rede pública e recorrerem aos planos de saúde. Um mercado que cresceu cerca de 6% nos primeiros nove meses de 2010, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS. Contudo, dentro de pouco tempo, esta não será mais uma opção para grande parte da população.
Se atualmente as faturas dos planos de saúde já comprometem parte considerável da renda dos brasileiros, a previsão é de que esta situação vá piorar ainda mais. Segundo dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo - IPAC, os planos sofrerão até 2040 reajustes de 126,67% acima da inflação. O resultado será o aumento de pessoas totalmente dependentes da rede pública.
Hoje, a dificuldade de atender em tempo razoável a quantidade de pessoas que procuram o SUS é o grande gargalo deste sistema. Imagine o que irá ocorrer quando os planos de saúde deixarem de ser uma válvula de escape. Para evitar o caos, o volume de postos de saúde e hospitais públicos precisa ser urgentemente ampliado, mas, como se declara diariamente, a postura do governo deve ser de corte de verba. Então, de onde sairá o dinheiro?
O primeiro passo já foi dado. Com a escolha de Padilha para substituir José Gomes Temporão, colocou-se um político no lugar de um técnico. Ao longo do governo Lula, Alexandre Padilha ocupou cargos como Chefe de Gabinete da Subchefia de Assuntos Federativos da Presidência da República que lhe permitiram desenvolver a habilidade de administrar interesses e construir parcerias. Esta característica certamente vai melhorar a relação do Ministério com o Congresso, acelerando a análise e votação de projetos relacionados à saúde, inclusive os que dizem respeito à destinação de verba.
Diferente do antigo ministro, Padilha tem um bom relacionamento com o Congresso Nacional e, valendo-se desta aproximação, cobrou a aprovação do projeto de lei - PL 01/2003 que regulamenta a Emenda Constitucional 29. A proposta que pretende reajustar os valores destinados à saúde pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios, quando aprovada, trará mais recursos para subsidiar melhoras no sistema de saúde.
Em outra vertente, Padilha contará, ainda, com o maior orçamento destinado a esta pasta desde 1995: R$ 77 Bilhões. Mesmo assim, segundo o próprio ministro, para alcançar o seu objetivo será necessário investir melhor os recursos.
Para saber onde aplicar, Padilha pretende criar um mapa nacional das necessidades da saúde. O novo ministro também pretende estabelecer metas claras que sejam divulgadas à população. O objetivo é demonstrar o que o Governo pretende fazer e permitir que a população cobre as melhorias necessárias.
O Ministro é enfático ao dizer que a coisa agora é séria: “Vai andar”. Distribuiu cartilha aos congressistas, orientando como não ter dificuldades para apresentar emendas parlamentares; prometeu generosidade nas reivindicações de deputados e senadores, porém cobrou apoio às medidas do setor de saúde, como a que exige que médicos formados em escola pública dediquem parte do seu tempo ao atendimento no sistema único de saúde.
O SUS foi criado em 1988 pela Constituição Federal e ainda tem um longo caminho rumo à finalidade de atender a todos os brasileiros, hoje 190.732.694 milhões. A postura do novo Ministro demonstra que o Governo está disposto a enfrentar os desafios e trabalhar obsessivamente para que esta viagem não seja tão longa. As medidas foram anunciadas, resta saber se serão suficientes.

Dr. Igor Azevedo. Advogado Coordenador membro do Grupo de Negócios – Saúde do MBAF Consultores e Advogados. Especialista em Direito Tributário pelo Juspodvim. saude@mbaf.com.br
Artigo publicado na REVISTA HOSPITAIS BRASIL  (pag. 114)

CRIANÇAS TEM PRIORIDADE NA SAÚDE.



Entrevista do Dr. Antônio Neto (advogado do MBAF) concedida ao jornal Tribuna da Bahia.


Tramita pelas comissões da Câmara Federal um projeto de lei de autoria da senadora Patrícia Saboya (PDT-CE) que obriga clínicas e hospitais a priorizarem atendimento à criança e adolescente. Se a proposta for aprovada, a lei atingirá principalmente os hospitais de cidades do interior da Bahia, onde os menores acometidos por algum tipo de doença não dispõem de um atendimento digno. Em Salvador chegam a todo instante, ambulâncias de diversas cidades cheias de pacientes a procura de um tratamento especializado. Esse fato aumenta a quantidade de pacientes no aguardo de um atendimento médico nas unidades hospitalares de Salvador.

É o caso da dona de casa Rilza Carmem dos Santos que chegou da cidade de Serrinha às 7 horas da manhã e por volta das 10 horas já aguardava a condução da Prefeitura para retornar à cidade levando consigo a boa notícia de que havia marcado a data da cirurgia de seu neto de apenas dois anos de idade.

 “Aos quatro meses de vida ele apresentou um problema e teve que colocar uma válvula na cabeça. Por dois anos ficou sem acompanhamento de um especialista porque lá em Serrinha tem cinco hospitais, mas médico que é bom não tem. Se quisermos um atendimento pediátrico temos que pagar uma consulta de R$ 100 ou dormir na fila da Secretaria de Saúde da cidade para aventurar pegar uma das oito senhas que são distribuídas um vez por semana para o atendimento com uma pediatra”.

Conforme a dona de casa, criança pobre em Serrinha, morre à mingua. “Tenho consciência de que temos que disputar um atendimento com as pessoas da capital que também precisam ser atendidas, mas ficar no interior a espera de um especialista é esperar a morte”. Segundo a dona de casa todo prefeito da cidade inaugura um hospital, mas não tem um profissional da área médica que aceite a proposta de emprego, por falta de pagamento de salário.

A também dona de casa Raimunda Arcanjo Santiago acompanhava o afilhado de quatro anos numa avaliação com o cirurgião que dentro de poucos dias vai ser operado do fêmur. Desacreditada do atendimento na cidade de Araci, onde mora, ela não pensou duas vezes em procurar um hospital especializado em atendimento de crianças.

“Lá no interior é uma descaso tremendo, os primeiros documentos que encaminhariam meu afilhado para fazer a cirurgia, foi perdido pelos funcionários da Secretaria de Saúde. Tivemos de providenciar tirar tudo novamente, leva-lo novamente ao médico para ele encaminhar o menino para Salvador. Em apenas três semanas resolvi tudo em Salvador”. Disse Raimunda Santiago muito satisfeita com o atendimento no hospital Martagão Gesteira, que segundo ela tem um atendimento muito bom.

PROJETO - O objetivo do projeto de lei é dar preferência no atendimento e prevenção de doenças que ponham em risco o desenvolvimento da criança e do adolescente, além de estabelecer uma política de assistência à saúde no Sistema de Saúde Suplementar, por meio do auxílio da Sociedade Brasileira de Pediatria.

Para o advogado Antônio Machado se o projeto de lei for realmente aprovado, a dificuldade maior está em encontrar profissionais de saúde especializados em pediatria. Segundo ele a procura por tal especialização está muito aquém do esperado. Também conforme o consultor Membro do Grupo de Negócios – Saúde do MBAF se aprovada a proposta, os planos de saúde também terão de se adequar à norma, pois serão obrigados a oferecerem aos adolescentes que fazem parte do quadro de beneficiários ações preventivas e de tratamento de doenças que possam colocar em risco o seu desenvolvimento e crescimento.

A ideia da senadora em elaborar o projeto de lei tem base nos estudos epidemiológicos recentes que demonstram que a prevenção eficaz da maior parte das doenças que acometem a população adulta na atualidade deve ser feita na infância.

Fonte: Tribuna da Bahia.